O dólar fechou em queda de 0,25% nesta quinta-feira (30), cotado a R$ 5,853, com o mercado repercutindo as decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos do dia anterior.
Enquanto o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) manteve a taxa inalterada e interrompeu a sequência de cortes, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) subiu a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano —ambas as divulgações em linha com as expectativas do mercado.
A sessão foi de volatilidade para a moeda norte-americana, que engatou o dia em alta firme e chegou à máxima de R$ 5,949 até perder força no meio da tarde. Foi a nona sessão consecutiva de queda do dólar em relação ao real.
Já a Bolsa disparou 2,82%, fechando aos 126.912 pontos, embalada pelo otimismo dos investidores e pela forte alta de 5% da Vale.
Na ponta brasileira, o Copom manteve a indicação da reunião de dezembro e aumentou a Selic a 13,25% ao ano, no que foi o primeiro encontro sob o comando de Gabriel Galípolo –nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi unânime entre todos os membros do colegiado.
No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta de 1 p.p. na próxima reunião, em março, citando a "continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação". No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste a partir da reunião de maio.
A principal função da taxa Selic é segurar a inflação. No último boletim Focus, analistas ouvidos pelo BC esperam que IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 5,50%.
O centro da meta para a inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Com a previsão de inflação mais alta para 2025, analistas dizem que a taxa de juros pode ultrapassar os 15% ao ano. Segundo eles, sem ajustes fiscais que garantam reequilíbrio das contas públicas, uma elevada taxa de juros seria a única forma de frear o avanço nos preços.
Ao mesmo tempo, a falta de indicação para as decisões depois de março abriu margem para a interpretação contrária: a de que o pico da Selic pode ser menor do que o esperado anteriormente.
O comitê afirmou que, depois da próxima reunião, a magnitude do ciclo de aperto será ditada "pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta" e dependerá de fatores como a evolução dos preços, projeções, expectativas de mercado, nível de ocupação da economia e do balanço de riscos para a inflação.
"A mensagem do Copom, na margem, sugere que a Selic terminal pode não ser tão alta quanto os mercados haviam precificado. O tom do comunicado foi duro, mas não o suficiente para deixar claro que a nova gestão será tão 'hawkish' [favorável à alta de juros] quanto a anterior", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
"Um tom menos crítico com o cenário fiscal e a falta de orientação futura abrem espaço para interpretações sobre o compromisso da gestão."
Essa percepção também era observada na curva de juros, onde as taxas futuras para contratos de curto prazo recuavam mais de 2%, refletindo um cenário de juros mais baixos do que o esperado.
O Ibovespa também surfava nessa percepção, com quase todas as empresas da carteira teórica no positivo.
Comentando sobre a decisão do Copom, o presidente Lula afirmou que o governo fará sua parte enquanto a autoridade monetária atua para baixar a inflação.
"Uma pessoa que tem a experiência de lidar com o Banco Central como eu tenho tem consciência de que, em um país do tamanho do Brasil, o presidente do BC não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra", disse.
Ele acrescentou não ver necessidade de novas medidas fiscais, mas ponderou que poderá reavaliar essa visão a depender do cenário. Para ele, o Brasil vai continuar crescendo, a massa salarial vai aumentar e o salário mínimo vai continuar sendo reajustado acima da inflação, "tudo isso sem ameaçar a estabilidade fiscal", assegurou.