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Idosa, dona de casa em que foi encontrada ossada humana e abrigava mais de 100 cães, sofria de câncer e recusou tratamento
ACIDENTE
Publicado em 26/08/2023

 

Os ossos foram encontrados na parte externa da residência da idosa e havia sinais de sangue em uma rede dentro de casa. Segundo a Polícia Civil, tudo indica que a ossada seja da idosa, que criava cerca de 150 cães em casa e morava sozinha.

A idosa Camélia Rosa Lopes, de 81 anos, dona da casa em que foi encontrada uma ossada humana, no início da tarde desta sexta-feira (25), no bairro do Cohaserma, em São Luís, sofria de câncer e se recusou a receber tratamento.

A informação foi dada pela delegada Débora Aiara Silva, titular da Delegacia do Meio Ambiente no Maranhão, em entrevista à rádio Mirante AM.

“Existe essa informação que ela era acometida por uma doença, o câncer. Ela tinha 81 anos e, segundo uma pessoa que prestava serviço de limpeza na residência dela, ela teria se recusado a se submeter a tratamento (contra o câncer). Então, foi uma decisão dela e, ao que parece chegamos até esse cenário, que estamos tentando desvendar”, destacou a delegada.

Segundo a Polícia Civil do Maranhão, tudo indica que a ossada seja da idosa, que criava cerca de 150 cachorros em casa e morava sozinha.

Os ossos foram encontrados na parte externa da residência e havia sinais de sangue em uma rede dentro de casa. Há a suspeita de que a aposentada tenha tido morte natural e, como os cães ficaram sem comida, acabaram se alimentando do corpo dela. O caso ainda será investigado pela Polícia Civil.

“Informações preliminares, captadas através da vizinhança, que conhece a rotina, que conhece a dinâmica da dona Camélia, existe a suspeita de que dona Camélia poderia ter falecido em sua residência e, por conta de um instinto animal, ela teria sido devorada pelos cães. Mas, tudo isso está sendo objeto de investigação”, explicou a delegada Débora Aiara .

A titular da Delegacia do Meio Ambiente destacou, ainda, que a informação preliminar é que, de fato, a ossada encontrada é humana. Os ossos já foram recolhidos e encaminhados para a identificação de seu código genético.

A delegada informou também que, segundo a pessoa que cuidava da limpeza da casa da idosa, a última vez que ela esteve no local foi no sábado (19) e, desde então, não teve mais contato com a aposentada.

Já os vizinhos da idosa afirmaram que, desde a última segunda-feira (21), que eles não viam nenhuma movimentação de Camélia em casa e nem ela saindo para pegar ração para os animais. A delegada destacou que imagens de câmera de segurança serão usadas para ver se alguém entrou na casa nos últimos dias, pois nenhuma linha de investigação está descartada.

"Todas as informações ainda são preliminares, nenhuma linha de investigação vai ser descartada. O fato da dona Camélia morar sozinha é um ponto de vulnerabilidade, mas todas as linhas de investigação serão seguidas. As imagens de câmera nós já solicitamos, mas, o que temos até o momento é que a última visita teria sido no sábado e, pelo que se apurou da vizinhança, esse silenciamento, essa mudança de rotina teria se dado a partir do início da semana, segunda (21) ou terça-feira (22)", explicou Débora Aiara.

Protetora dos animais

Ainda de acordo a delegada Débora Aiara, Camélia Rosa era conhecida na região em que morava como uma protetora de cães, tendo devotado parte considerável de sua vida ao cuidado dos animais.

“A dona Camélia era uma pessoa solitária, ela morava sozinha, não casou e não teve filhos. Temos notícia apenas de um irmão, com o qual ela não tinha relações familiares. A vida dela era inteiramente devotada a esses animais. Nós vamos tentar entrar em contato com essa pessoa (irmão da idosa)”, informou a delegada.

A grande quantidade de cachorros na casa da aposentada fez com que a Delegacia do Meio Ambiente instaurasse um inquérito para retirada gradativa dos cães da residência.

O inquérito virou processo e entrou em estado de cumprimento de sentença, a qual determinou a retirada dos animais de forma gradativa, pois o município de São Luís não tem um local que consiga comportar, de uma vez, uma grande quantidade de animais.

No entanto, a idosa sempre tentava impedir a retirada dos animais da residência, pois os considerava como filhos.

A delegada Débora Aiara apontou, ainda, que na decisão judicial de retirada dos animais da casa da aposentada, ficou determinado que a idosa fosse submetida a avaliação psicológica, para saber se ela tinha condições de morar sozinha. A idosa foi avaliada, mas não houve nenhum pedido de interdição dela, ficando subentendido que ela podia cuidar de si mesma.

Com a possível morte de dona Camélia, os cerca de 150 cães encontrados no local, 100 adultos e 50 filhotes, serão alimentados e avaliados por médicos veterinários e, a partir da próxima semana, começarão a ser retirados da residência.

A delegada afirmou que os animais sadios serão encaminhados para adoção e, por isso, ela pede que a população de São Luís se engaje nessa causa da adoção, para dar uma oprtunidade de sobrevida a esses animais.

Desde 2021, que a Justiça do Maranhão tinha determinado a retirada progressiva dos cães da residência da aposentada. A estimativa, na época, era que ela tinha mais de 100 cães, uma quantidade elevada de animais que causava transtornos para os vizinhos e oferecia risco à saúde pública.

“A gente teve que fazer um sistema de isolamento, porque é difícil dar aula com esse barulho infernal que tem aqui, sem falar o odor. A situação é a pior possível, um barulho infernal. A casa é imunda, é uma fedentina. Isso é um problema de saúde pública”, afirmou Geiza Oliveira, diretora de uma escola localizada ao lado da residência.

A primeira etapa da decisão foi cumprida no dia 23 de fevereiro de 2021, com a captura e retirada de 15 cachorros. Os animais foram levados para o Centro de Controle de Zoonoses de São Luís.

A decisão de retirada dos animais foi da juíza Laysa Martins Mendes, da 7ª Vara da Fazenda Pública, a qual determinou que os animais fossem retirados progressivamente, a cada 20 dias, até restarem cinco. A determinação foi tomada após ação da 16ª Promotoria de Justiça Especializada de São Luís.

Também foi determinado, em 2021, que a idosa fosse inserida em programa de acompanhamento por equipe multiprofissional da Rede de Atendimento Domiciliar e de Atenção Básica, bem como por profissionais da Coordenação da Saúde Mental do Município de São Luís para avaliação e tratamento médico e psicológico.

Além disso, o Município de São Luís foi obrigado a providenciar relatório médico psiquiátrico da idosa com o objetivo de averiguar eventual transtorno de acumulação de animais ou outras doenças existentes.

Em agosto de 2021, o Ministério Público do Maranhão (MP-MA) coordenou a retirada de 20 cães da residência da aposentada.

A operação foi coordenada pelos promotores de Justiça Cláudio Rebêlo Alencar (Defesa do Meio Ambiente) e José Augusto Cutrim (Defesa do Idoso) e contou com a participação de diversos órgãos públicos municipais de São Luís e do Estado do Maranhão, como a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, médicos, enfermeiros e agentes de limpeza, além de entidades da sociedade civil e pessoas da comunidade.

Por Liliane Cutrim, g1 MA

25/08/2023 19h53  Atualizado há 12 horas

 

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