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Exclusivo: Polícia indicia Saul Klein por crimes sexuais contra 14 mulheres
POLÍCIA
Publicado em 29/04/2022

A Polícia Civil de São Paulo indiciou o empresário Saul Klein nesta quinta-feira (28) pelos crimes de organização criminosa, trabalho análogo à escravidão, tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, casa de prostituição, favorecimento à prostituição e falsificação de documento público. Também pediu a prisão preventiva de Klein, o que se estendeu a outras nove pessoas suspeitas de estarem envolvidas nos crimes. 

No relatório, a delegada Priscila Camargo ressalta que o inquérito tramita por mais de 15 meses e ainda há um "rol extenso de pessoas a serem indiciadas", referindo-se às pessoas envolvidas no esquema de aliciamento criado por Saul. O caso é tema central do documentário "Saul Klein e o Império do Abuso", produzido por Universa e MOV.doc. O conteúdo de um dos episódios é citado no documento policial. 

Advogado de defesa de Klein, André Boiani e Azevedo foi procurado pela reportagem. Afirmou que o "indiciamento é um ato discricionário [arbitrário] da autoridade policial que não vincula os demais atores processuais". "Saul e sua defesa técnica respeitam o posicionamento da Polícia Civil mas entendem que a análise atenta e isenta dos elementos do inquérito levará o Ministério Público e o Judiciário a concluírem por sua inocência", afirmou. 

Em entrevistas anteriores a Universa, em abril de 2021 e em outubro de 2022, Boiani negou todas as acusações contra Saul. Disse que ele tinha, sim, relações com as mulheres, mas que não houve qualquer tipo de ato violento. "Ele mantinha relações consentidas com essas moças. [...] Essa aproximação não dava a ele direito algum de manter relações sexuais forçadas com quem quer que fosse, tanto é que não ocorreram", afirmou. 

Assistente de acusação, a advogada Priscila Pamela dos Santos —que ao lado da também advogada Maíra Recchia representa as 14 vítimas que denunciaram o empresário à Justiça— diz que a decisão da delegada vai ao encontro do entendimento de ambas, que acreditavam ter indícios suficientes nos depoimentos das vítimas. 

"O indiciamento traz a devida confiabilidade à palavra das vítimas, uníssonas a respeito dos crimes a que foram submetidas", afirma Santos. "A delegada, ao analisar os fatos como um todo, compreendeu pela ocorrência dos crimes noticiados e era exatamente o que esperávamos. O inquérito já estava instruído com elementos necessários à sua conclusão e posterior oferecimento de denúncia." 

Agora, o relatório vai para o Ministério Público que, por sua vez, também analisará a investigação e poderá apresentar uma denúncia à Justiça, que a aceitará ou não. No primeiro caso, Saul se torna réu. 

Não há previsão de data para um possível julgamento. Se a sentença em primeira instância sair após o empresário completar 70 anos —hoje, ele tem 68— a prescrição máxima, que é de 20 anos, cai pela metade, segundo a lei brasileira. Saul pode beirar os 80 quando for julgado em última instância, mas isso só ocorrerá se a denúncia não prescrever até lá. Caso prescreva, mesmo que seja condenado, não haverá punição. 

Se for condenado na esfera criminal, a pena vai variar de acordo com os crimes julgados, e o tempo de prisão pode variar entre dois e 12 anos. 

Santos e Recchia também vão entrar com ação pedindo indenização pelos danos causados às vítimas. Nesse caso, a condenação seria pagamento em dinheiro, mas os valores ainda não foram estabelecidos. A quantia a ser pedida em um processo dessa natureza pode chegar a R$ 2 milhões por vítima. 

Relembre o caso 

Saul é investigado pela polícia desde setembro de 2020, em um processo envolvendo 14 jovens que o denunciaram por estupro, lesão corporal e transmissão de doença venérea, entre outros crimes. 

Elas fizeram as primeiras denúncias em setembro de 2020 à promotora de justiça Gabriela Manssur e foram encaminhadas ao projeto Justiceiras, idealizado por ela, sob liderança jurídica da advogada Luciana Terra Villar. As vítimas passaram por acolhimento psicológico e orientação jurídica, e as denúncias foram levadas à Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri. 

Até março deste ano, 18 meses após o início da investigação e um ano depois de Universa publicar uma série de reportagens com trechos de depoimentos de nove vítimas, o inquérito já havia passado por quatro delegados responsáveis: Ivna Schelble, Eynard Bertho Ferreira Junior, Amelia Gonçalves Bretas e a atual, Priscila Camargo, que assumiu o comando da delegacia em fevereiro de 2022. A rotatividade se deu pelas trocas feitas no comando da Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri. 

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