BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro tentou explicar a líderes evangélicos a compra de 35.320 comprimidos de Viagra para as Forças Armadas. "Compram para combater hipertensão arterial e também doenças reumatológicas", disse o presidente em um café da manhã no Palácio da Alvorada.
"Com todo o respeito, não é nada. Quantidade para o efetivo das três Forças, obviamente, muito mais usada pelos inativos e pensionistas", afirmou ainda o presidente.
O deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) diz ter identificado, no Portal da Transparência e no Painel de Preços do governo federal, oito pregões homologados em 2020 e 2021 para a compra do medicamento conhecido por tratar a disfunção erétil. O líder do PSB na Câmara, Bira do Pindaré (MA), já começou a recolher assinaturas para instalar o que chamou de "CPI do Viagra".
Parlamentares também querem pedir explicações ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público Federal sobre o motivo da compra de 60 próteses penianas infláveis para hospitais do Exército ao custo de R$ 3,4 milhões. As informações sobre a aquisição das peças foram obtidas por Elias Vaz e pelo senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) no Portal da Transparência e no Painel de Preços do governo federal, que, segundo eles, mostram três pregões homologados em 2021 para aquisição dos materiais.
Em nota, o Exército afirma que foram adquiridas apenas três próteses penianas pelo Exército Brasileiro, em 2021, para cirurgias de usuários do Fundo de Saúde do Exército.
Encontro com evangélicos
Bolsonaro recebeu líderes evangélicos para um café da manhã nesta quarta. O encontro não consta da agenda oficial do presidente, como orienta a legislação, e acontece no momento em que o governo quer reforçar laços com o segmento religioso para enfrentar o ano eleitoral.
O deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO), pré-candidato ao governo de Goiás, transmitiu parte do encontro nas redes sociais. Na mesa do café da manhã, Bolsonaro estava ao lado da primeira-dama Michelle e da pastora evangélica Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que deve sair candidata a deputada federal pelo Distrito Federal nas eleições deste ano.
Bolsonaro tem os evangélicos conservadores como aliados, mas a relação entre eles sofreu desgastes recentes após os atritos na esteira da crise no Ministério da Educação.
Depois de muito pressionar, foi a bancada evangélica que deu o xeque-mate em Bolsonaro para a demissão de Milton Ribeiro do MEC. A queda veio dez dias após o Estadão revelar a existência de um gabinete paralelo dentro da pasta.
O grupo - capitaneado por pastores - cobrou propina em ouro para a liberação de verbas e intermediava encontros com o então ministro, também pastor.
Lideranças religiosas viram desgaste para o segmento e exigiram a saída de Ribeiro, que deixou a Esplanada principalmente após a reportagem mostrar a distribuição de Bíblias com foto do antigo titular do MEC.